30.6.08

poesia de três minutos

Agora é noite
Mas bem que podia
Sair na varanda
Sentar no capim
Os insetos
No chão
Bem que eu podia
Esquecer
A semiótica
A semiologia
Bem que eu podia
Sentado no banco
Passadas três horas
Defronte
As bananas
Desenhá-las
Como quem saboreia
O tempo de uma torta
Do grano às orelhas
Bem que eu podia
Um pote de tinta branca
E outro vermelha
Num espelho de cores
O quintal verde
Bem que podia
Sair do chão
Desintegrar
Numa integração
Abraçar deitado
Tão fechado
que fosse integrando
até o Japão.
Bem que podia
Fazer uma poesia
Tão comprida
Tão comprida
Que desse a volta
E sobrasse ainda
O tamanho da vida
(a minha não)
Mas bem que podia
Sair andando
Sem razão
Deixando as vestes
Espalhadas no chão
E ouvindo os outros
Loucos
Gritando
Não!
E sim
Eu poderia
Bem que podia
Sair dessa vida
Sem esconder que queria
Sem deter o que podia
e teimava que não
Bem que podia
Bem que podia
Não!

Um comentário:

O Desbunde disse...

um pote de tinta branca e outro vermelho, lembrou-me a morte do leiteiro!
bem que podia! bem que podia!