o sistema da dialética é apenas a reprodução consciente do desdobramento dialético (essência) dos acontecimentos exteriores do mundo. (Razumovski, "Teoria do materialismo histórico", Moscou, 1928)
Portanto:
a projeção no cérebro
do sistema dialético das coisas
- na elaboração abstrata -
- no pensar - produz o modo de pensamento dialético materialismo dialético - A FILOSOFIA
Do mesmo modo:
a projeção do mesmo sistema das coisas
- na elaboração concreta
- na formação [produto] - A ARTE
o fundamento dessa filosofia é a concepção dinâmica das coisas:
a existência como nascimento constante
a partir da ação recíproca de duas contradições opostas.
Síntese que nasce na contradição
entre tese e antítese.
Na mesma medida, ela também é fundamentalmente importante
para a justa concepção da arte e de todas as artes."

A citação acima faz parte do texto "Stuttgart", de Sergei Eisenstein. É ele o diretor de um dos mais famosos filmes da história, "O Encouraçado Potemkin" (que narra um levante de marinheiros em 1905, anos antes da Revolução Russa), além de outras películas importantissimas, como "Outubro" (que narra justamente a Revolução).
A partir dessa citação, ele introduz o princípio fundamental do CONFLITO, através do qual a dinâmica da dialética toma corpo no campo das artes (todas elas, não só a 7ª). Ao longo do texto, ele aprofunda e aplica o conceito, muitas vezes exemplificando-o através de cenas dos seus próprios filmes, como a talvez mais famosa delas, em que o exército do Czar atira contra a população que sobe uma escadaria.
Atingida, uma mãe protagoniza um dos gritos de horror mais terríveis de que se tem notícia. Separa-se de seu filho, que num carrinho de bebê rola escada abaixo.
Um dos fatores que torna a cena impressionante é talvez o contraste das faixas de sombra e luz dos degraus da escada, geometricamente perfeitas e inabaláveis, face ao desespero e horror da população massacrada. Assim, a idéia de conflito perpassa o campo imagético, mas não se restringe a ele. A hierarquia social do regime Czarista, mantida na base da violência, é condensada no conflito entre escada x pessoas (atentar para os ângulos opostos) e povo x exército...

A arte é simples e sem grandes pretensões de "beleza". Não é o que importa. Importa é a possibilidade de apresentar o CONFLITO. Estabelece-lo como uma alternativa viável e como uma forma de lidarmos com a triste realidade que nos cerca. Ccomo o Eisenstein de Stuttgart, acredito que entender os fundamentos e princípios da arte é também, assim como a FILOSOFIA, uma forma de entender o "desdobramento dialético (essência) dos acontecimentos exteriores do mundo".
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