19.4.10

poema para a gica

minha gata
(quase escrevi "coitada")
fez ninho aqui nas minhas coxas
encostou a cabecinha sobre o meu punho
e esboça agora um ransrono
que eu quero "de carinho"

pobre ela
que não sabe quase nada
que não sabe mesmo nada
nada além do que ser gata
pobre que nem pobre pode ser
só pensa na rações
e é filha adotiva
das minhas razões

não pode, não existiria,
em seu pequenino cerébro felino
a nossa grande vontade
quanto menos a necessidade
de outra vida
que não essa
vida de gato
tão bovina

fica aqui no meu colo
(eu soletraria:)
sa-tis-fei-ta

pobre gata, coitada
não queria sua pele para mim

eu e meu cérebro
nos redobros de suas rugas
não obstantes tantas rusgas
somos cheios de alegrias
fartas comilanças
bebedeiras
putarias
que a minha vida boêmia
quase sempre
propicía

ah, meu cérebro
como gosto dele
com suas rugas
fumando a todo vapor
alocando rugas e rusgas numa mesma poesia
e vivendo ao extremo as alegrias
(agora mesmo me veio à mente a cena de um filme, corcéu negro - se nào me falha a gramática e a memória - em que meu cérebro, digo, em que um cavalo corre sem céla pelas areias de uma praia, imponente mais que a maré...)

ah, como gosto de meu cérebro
que não me manda e não deixa-me mandar

eu fico mesmo
só poderia
sa-tis-fei-to.

Um comentário:

Jeff disse...

fan-tást-ti-co... acho que dos melhores que jah li dos seus! (ransrono vai pro meu dicionario)