8.10.09

Fico indignado - e até hoje não sabia porquê - quando (sempre) me dizem: "não temos acessos à grande mídia, para que discutir mídia?". E não estou falando da CONFECOM - essa instância tão fiél do crédulo cego ao diálogo com a burguesia - que este ano vem desviando o pensamento sobre comunicação para uma viela escura. Também não estou falando da criação de rádios e TVs comunitárias que populem e reproduzam conteúdos - quais forem - por este mundo afora.

Quando Gutemberg criou a sua prensa gráfica, em 1444, pouquíssima gente sabia ler e comprar livros não era exatamente desenbolsar 10% de um salário mínimo. Essa situação mudou só depois de centenas de anos, é verdade. E mesmo hoje existem ainda milhões de analfabetos que sequer a este mundo "linear" da escrita podem ter acesso. Mas a escrita hoje é só um lado da moeda, que gira redemuinicamente e nos faz vislumbrar um novo modo de entender o mundo e sua desgraça. A questão é: não basta escrever livros ou jurar em milhares de artigos super-perspicazes que tudo anda uma bosta para que as pessoas tenham como acessar/tomar ciência da realidade e, num passo ainda outro, uma atitude.

Quero dizer: é preciso discutir um modelo novo de análise da realidade e este modelo não passará somente por descrevê-la e analisá-la textualmente, pois este recurso é extremamente limitado quanto à "cobrir" e fazer entender/explicar todos os aspectos da realidade. Basta pensar nos milhões, talvez bilhões, de páginas que devem mofar por bibliotecas que matariam qualquer asmático alérgico a pó e no número de marxistas que não leram o Capital até o fim (eu nessa lista incluso). Não quero reiventar a roda, mas minha raiva do primeiro parágrafo reside justamente aqui. Quando me dizem: "nunca teremos a grana e o acesso à massa que hollywood tem!" eu penso: "de fato, mas não é o que devemos querer, ainda que não fosse de todo mau".

O que devemos querer é caminhar com as próprias pernas, gerar modelos, criar experiências de análise e crítica que reúnam a objetividade/clareza (mas pobreza cognitiva) do texto e a fruição/riqueza (porém subjetividade e dispersão) das imagens em movimento. Isso significa criar uma tática e estratégia de revolução com base nesse novo tipo de crítica, mais ampla e abrangente. É preciso dar esse "status" à mídia, ao cinema, à comunicação como realidade mantenedora da hegemonia dominante, senão teremos centenas de milhares de horas de registro filmíco da derrota definitiva da classe trabalhadora. E eu é que não quero editar esse filme.

2 comentários:

Wilson Guerra disse...

Quando me dizem: "nunca teremos a grana e o acesso à massa que hollywood tem!" eu penso: "de fato, mas não é o que devemos querer, ainda que não fosse de todo mau".

Essa passagem foi fundamental. O servo sonhava em ter nascido nobre ao invés de romper com o feudalismo, o escravo sonhava em ter nascido senhor ao invés de destruir a escravidão. E os trabalhadores sonham em serem ricos, e não em superar a ordem burguesa. E deve ser mais ou menos por aí a gênese de toda problemática.

Abração!

ps.: estou estudando o volume 1 do Capital. Muito bom heim.

Maíra disse...

Denis, gostei muito de ler seu texto, pela qualidade escrita e do conteúdo, mas confesso que no fim, talvez por ser uma leiga, não entendi qual é a sua proposta. Seria utilizar a mídia como estratégia revolucionária? Com certeza, a comunicação tem muito mais ferramentas a oferecer do que "milhares de horas de registro fílmico (o seu filmíco ficou interessante) da derrota definitiva da classe trabalhadora". Ácido e lúcido!
Beijos distantes