17.11.07

Em cada rua que passo
quando acordo e trabalho
tem um antigo cadáver
sangrando

e sangro quando vejo
o antigo cadáver
que foi atropelado
cumprimentando seu irmão

"Uma guerra
não é guerra
enquanto um irmão
não matar
outro irmão"

Em cada rua que passo
sinto a mesma rua
sobre o mesmo chão
e penso que os cadáveres
cercam não só o meu sono
mas os dias em que acordo
e trabalho.

Por isso, tenho medo.
Não quero mais lutar
com meus cadáveres.

Pela janela do ônibus
que paguei para me levar
olho uma velha
que tem a cabeça no meio fio
e o corpo estirado
na contra mão

como passa e não vê?
como segue e trabalha?
trabalha?
estuda?
finge?
ama?
vinho?
sangue?
chão?

ah, os senhores me colocaram aqui e tenho medo.
posso escrever um poema bonito, mas tenho medo dos cadáveres, que são meus irmãos.
posso organizar em minha mente bons conceitos e dizer que sou pela revolução
mas a verdade é que tenho medo e choro.

quando acaba a viagem?

uma triste luz aguarda meu fim
mas não sei se ele chegou há tempos
ou perdeu-se no caminho
e deixou-me aqui.

3 comentários:

Tina disse...

A viagem, acredito, não tem fim. Podemos mudar o rumo desta viagem... Quando as pessoas passarem a enxergar o que não querem ver? Quando cada cadáver for motivo de não esquecimento? Quando cada morte for lembrada enquanto motivo de revolta? Quando a palavra de ordem "Não esqueceremos" for entoada com mais frequência? Não esqueceremos, De, não esqueceremos!

Denis Forigo disse...

...

Denis Forigo disse...

ok, ok, Tinoca... aí está de volta. Não esqueci e não esqueceremos! :)