Em cada rua que passo
quando acordo e trabalho
tem um antigo cadáver
sangrando
e sangro quando vejo
o antigo cadáver
que foi atropelado
cumprimentando seu irmão
"Uma guerra
não é guerra
enquanto um irmão
não matar
outro irmão"
Em cada rua que passo
sinto a mesma rua
sobre o mesmo chão
e penso que os cadáveres
cercam não só o meu sono
mas os dias em que acordo
e trabalho.
Por isso, tenho medo.
Não quero mais lutar
com meus cadáveres.
Pela janela do ônibus
que paguei para me levar
olho uma velha
que tem a cabeça no meio fio
e o corpo estirado
na contra mão
como passa e não vê?
como segue e trabalha?
trabalha?
estuda?
finge?
ama?
vinho?
sangue?
chão?
ah, os senhores me colocaram aqui e tenho medo.
posso escrever um poema bonito, mas tenho medo dos cadáveres, que são meus irmãos.
posso organizar em minha mente bons conceitos e dizer que sou pela revolução
mas a verdade é que tenho medo e choro.
quando acaba a viagem?
uma triste luz aguarda meu fim
mas não sei se ele chegou há tempos
ou perdeu-se no caminho
e deixou-me aqui.
3 comentários:
A viagem, acredito, não tem fim. Podemos mudar o rumo desta viagem... Quando as pessoas passarem a enxergar o que não querem ver? Quando cada cadáver for motivo de não esquecimento? Quando cada morte for lembrada enquanto motivo de revolta? Quando a palavra de ordem "Não esqueceremos" for entoada com mais frequência? Não esqueceremos, De, não esqueceremos!
...
ok, ok, Tinoca... aí está de volta. Não esqueci e não esqueceremos! :)
Postar um comentário