26.7.07

Design cubano em revista

Aprendi com meu professor e amigo Cláudio Portugal que o Design é (grosso modo) a ciência que estuda como comunicar uma idéia aos seres humanos. "Como fazer a ponte?" é a sua pergunta. Mais especificamente no Design Gráfico, estão fortemente envolvidas as noções de Projeto, Processo e Reprodução. Isso ocorre em detrimento a predominância da subjetividade, singularidade ou mesmo à noção de autoria. Com isso a "arte" se desloca de um patamar místico (que tantos "artístas" procuram preservar) para a realidade material e fora das grandes galerias: a realidade dos meios de produção e da vida cotidiana. É nessa realidade que as contradições sociais estão mais fortemente colocadas e onde a arte pode ter uma papel mais interessante do que servir ao ego de colecionadores milionários.

Em último caso, o Design pode ser uma porta de acesso para o estudo da produção semiótica, intrinseca a qualquer sociedade. Em especial, quando a sociedade se movimenta e "sente os grilhões que a acorrenta", surgem grandes movimentos também nas formas de produção dos significados. Mais do que no cotidiano urbano de logotipos super-modularizados e tipografias super-refinadas (tudo super-bem-financiado), é numa situação de revolução social que esse conceito de "comunicação de idéias" acaba sendo retomado com mais força e de forma mais ampla.

Então, a minha paixão por Design Gráfico se intensifica quando olho para trás e vejo a produção desses momentos, nos quais a sociedade se questiona e busca concretizar ideais de transformação. Uma dessas épocas singulares é o período da revolução cubana, que ao meu ver está em sua fase inicial, ainda que evidentemente tenha dificuldades. Mas calma, não estou aqui para uma análise da revolução cubana em sí. Estou aqui porque a Marcia (minha companheira de casa) chegou de sua visita ao seus pais, que moram no Canadá, e trouxe uma encomenda especial: a edição nº344 da revista Communication Arts, cuja capa reproduzo acima. Nela, uma longa reportagem sobre o Design gráfico cubano, entitulada "Cuba sí!" que será em breve devorada e ruminada neste blog. Mesmo que a capa cause um certo estranhamento, o inicio da matéria traz uma perspectiva interessante: "The Cuban Revolution of 1959 was a watershed event that bestwoded on Cubans extraordinary gifts of social justice and equality, dramatic avances in public health and education, and a equitable distribution of the national wealth". (Alguém quer fazer a tradução?)

Uma das mídias que considero mais interessantes e importantes, não só na produção cubana, mas na maioria das produções gráficas de situações revolucionárias, é o cartaz. É a mídia que traz o formato da tela na perspectiva do Design Gráfico: um cartaz é um quadro reproduzido aos milhares, a partir de uma matriz que muitas vezes oculta seu autor. E a escola cubana é pródiga em cartazes geniais, como este em que Cuba (o jacaré verde no mapa) se põe em armas, manuseadas pela mão américa latina. É a Revolução Cubana retratada num cartaz. Num outro sentido possível, Cuba é o instrumento da revolução bolivariana, que vai extinguir os paises latino-americanos e fazer nascer uma só nação. Vale lembrar que Chê Guevara, mais do que argentino ou cubano foi um cidadão revolucionário da América Latina: prova é que morreu na Bolívia, organizando lá mais focos de guerrilha para uma revolução que não devia se restringir a um só país.

Por fim coloco aqui uma série de cartazes (retirada da revista) produzidas em comemoração aos 10 anos da Revolução Cubana. Juntos, os cartazes formam a palavra "REVOLUCION" e são um bom exemplo de criatividade na utilização dessa mídia, que mesmo sem poder contar com muitos recursos técnicos (devido ao embargo norte-americano) ajudou a constituir uma escola até hoje respeitada em todo o planeta. Ela dá um sentido diferente ao que é arte porque a sociedade cubana, depois da revolução, dá um sentido diferente a sua própria história. Muda a vida, muda o Design (ou a arte, se preferir).

Um comentário:

Natanael Mahon disse...

Que capa!!!espero, realmente que destrinches esta reportagem
abraço