11.6.07

A história do chamamento pelo nome

Deitado já sob o solo que lhe puseram as pás, pensava sinceramente que não era de bem um morto falar. Ainda que Machado o fizesse anteriormente, ainda que fosse da literatura corrente, pensava que clamar, fosse o que fosse, mais ainda não tendo sido de seu costume quando em vida, seria inútil ou, no mínimo, vulgar. Sendo assim, resolveu o morto Ataíde ficar calado. Resolveu que quando morto, e agora sim era o caso, quando morto não deveria mais falar. Chegou a tal conclusão e seria, por todos os tempos, morto em silêncio. No fim acabou realmente por não falar. Também não ressuscitou, que isso já era coisa de morto mais importante. Mas resolveu que em silêncio, com seus botões, deveria sussurrar uma cantiga fina, como garoa de cidade grande, que não serve para nada, a não ser molhar. Escolheu que seria o sussurro sua arma mortal, sua assinatura viva de morto pra sempre. Para enfeitar também virou vulto, daqueles que sombreiam quando ao sono alguém luta para não se entregar. E é para estes que a cantiga do Ataíde, não fazendo sono, vira chamamento do nome e sinal de azar.

2 comentários:

Jeff disse...

E afinal, que fim levou ataíde?

Denis Forigo disse...

Morto que é morto nunca morre.