1.7.07

Como surgiu a linguagem humana?

Como falavam os primeiros falantes? Eis uma questão recorrente na Lingüística. Quando entra-se no curso, um dos primeiros textos indicados para leitura é "Linguagem das Abelhas", do polêmico Emile Benveniste. O texto serve ao curso mais para diferenciar o que é ou não é linguagem, do que para mostrar como seria a origem das linguas humanas. (Num passado remoto, os humanos NÃO foram abelhas :). Depois assiste-se ao sono-lento e chatissimo (mas interessante-para-lingüístas) filme de Werner Herzog, O enigma de Kaspar Houser, em que um cara é jogado ao mundo, já adulto, sem ter experienciado anteriormente qualquer interação lingüística. São exemplos de como o estudo da linguagem humana (e da sua origem) passa não só por entendê-la em seu funcionamento cotidiano, mas também por compará-la ou por levá-la a situações extremas (existem diversos casos reais como o de Kaspar Houser). E pode causar problemas maiores do que se imagina...

Mas, voltando a vaca fria(!?), passado é passado e teoria é teoria... sobre o que deu origem de fato à linguagem humana podemos apenas formular hipóteses e fazer experimentos. Essas teorias são mais importantes para justificar e juntar peças em programas de pesquisa, do que para encontrar verdades verdadeiras, obviamente.

Mas, até aqui, foi introdução. Agora é o post de verdade:

Assisti à uma aula sobre psicolingüística em que o professor descreveu um desses experimentos. Entretanto, não eram abelhas ou humanos presos em cativeiros que tiveram sua linguagem examinadas, em busca deste berço lingüístico. Eram robôs. Isso mesmo. O cientista dinamarquês Luc Steels, financiado pela Sony :( , fez em 1998 um experimento em que robôs com capacidades básicas (reconhecimento/emissão de silabas e reconhecimento de imagens), sem programação prévia (ou seja, sem significados pré-estabelecidos e sem ações pré-determinadas), eram colocados em pares diante de um quadro branco com algumas figuras geométricas. Como eu disse, os robôs tinham capacidade de reconhecer aquelas imagens e emitir ou ouvir sons (os sons possíveis foram programados a partir do alfabeto fonético internacional). Não havia qualquer intencionalidade pré-programada. O resultado inicial é que cada par de robô, depois de um tempo, estabeleceu (espantosamente) um certo diálogo a partir de suas capacidades.

Mas não só isso: assim que cada um desses pares estabelecia esse diálogo, Steels desligava os robôs e formava novos pares, com outros robôs, que em alguns casos já tinham também estabelecido algum diálogo anteriormente e em outros casos não. Steels colocou humanos para interagir com os robôs também e, em alguns casos, desligava para sempre (matava) os robôs... foram 2.000 robôs testados (intercalados) em quatro paises, de diferentes continentes, durante 4 meses. Espantoso mesmo, entretanto, é o resultado final: depois de analisar as "memórias" dos robos, cruzando os dados dos sons emitidos e das imagens focalizadas, foram identificadas 8.000 "palavras", que distinguiam não somente os objetos apresentados nos quadros, mas características relativas às cores, formas, tamanho etc. Ou seja, foi criado um léxico, a partir da relação com a realidade (simples) apresentada aos robôs, sem que isso fosse programado, sem que houvesse necessidade de que isso ocorresse. Este léxico foi criado a partir do acaso!

Há muitas decorrências sobre este experimento que não vou comentar aqui, até por que o que estou falando aqui é de ouvido, da aula... mas o resultado é pertubador tanto para gerativistas (a corrente lingüística de Chomsky), quanto para funcionalistas pois, se por um lado não havia qualquer necessidade comunicacional de se criar um léxico, por outro o léxico não está internalizado ou codificado na "cabeça" dos robôs. Ele surge a partir da situação dialógica criada! A luz disso, recomendo a leitura de M. Bakhtin, em especial seu capitulo sobre "Os gêneros do discurso", no livro "A estética da criação verbal". Quando eu tiver mais informações eu coloco aqui...

5 comentários:

Jeff disse...

Hummm... queria ver esse experimento... me parece estranho, porque essa de que os robos foram programados sem nenhuma intencionalidade é bem estranho... em inteligencia artificial tudo que parece inteligencia em alguma medida jah foi programada anteriormente... ao permitir que reconheçam certas coisas a intencionalidade jah estava dada... ou nao?

Denis Forigo disse...

é também fiquei pensando sobre isso... segundo o Prof. Edson, os robôs poderiam aleatóriamente emitir sons (ou não emitir), diante do quadro com objetos. Por que eles emitiram então? Há alguma intencionalidade ai... mas acho que a questão é que não havia programação de intenção de comunicação entre os robôs, tipo: não havia programação para responder a estímulos sonoros... quer dizer, não havia uma situação de diálogo pré-programada, somente a intencionalidade de reconhecer figuras e emitir sons (e relação entre esses sons e as figuras não estava programada também). A partir disso, entretanto, surge um léxico (não uma linguagem). E esse léxico não está na "cabeça" dos robos e nem está em nenhuma lista. ele foi se estabelecendo históricamente e existia fora de uma comunidade, pois foi criado na interação entre pares de robôs... enfim, o que sei é isso, vou pesquisar mais...:)

Denis Forigo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Arielle Arruda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

a linguagem surgiu por volta de 45 a 70 mil anos atrás(não se tem certeza).
primeiramente os seres humanos(homens -macacos) só emitiam sons associados a símbolos.