19.6.07

Arruda neles, again


Dia 30 de junho, sábado agora, vamos nós de novo para Sampa, filmar com Plínio de Arruda Sampaio. Plínio tem origem na geração desenvolvimentista, que foi "tragada" pelo golpe de 64. É durante o governo Carvalho Pinto, em contato com a dura realidade da população do estado de SP, que se consolida como socialista. Sua geração é a que, toscamente falando, ajudou a ruminar, do exílio, a consolidação de um novo partido, o PT. A conjuntura desse surgimento é a retomada da participação popular no Brasil, depois de mais de uma década de ditadura. Havia um grande entusiasmo e esperança na participação democrática, ainda que fosse uma democracia burguesa.

Plínio, que antes fora relator do projeto de reforma agrária do Jango, agora é um dos articuladores dessa nova constituinte de 1989. Não deixa de haver algo em comum nesses eventos. O governo de Jango, que propôs reformas sociais e que caiu com o golpe dos milicos sem resistir (mesmo que tivesse essa opção), e a constituição de 1988, que consolidou de certa maneira o "fortalecimento das instituições democráticas" (tão buscado por JK, o mesmo presidente que começou a abrir o país para os gringos).

Acho que algumas perguntas estabelecem esse paralelo: será que é viável o tipo de programa proposto no governo Jango? Será que ainda hoje é válido o “investimento” em instituições democráticas burguesas, como tática de acúmulo para os trabalhadores, na luta de classes? Até que ponto o desenvolvimento das regras políticas da burguesia - que garantem uma despolitizada participação popular (vide o eleitoralismo lulista) e uma vida quase tranqüila (mas vigiada) para a classe média - não garantem exatamente o aprofundamento e fortalecimento do sistema capitalista, no que ele tem de pior: a sua essência desumana.

É claro que esse investimento não é algo binário na prática, mas é preciso um ponto de partida único. A partir daí são possíveis teses concorrentes, maiorias e minorias, divergências e contradições que nos fazem caminhar, protegendo a tese central e a desenvolvendo. Esse ponto de partida pode estar mais avançado ou mais atrasado, pode estar correto ou equivocado, mas é dele que partimos nas disputas sociais. Constituir este núcleo duro é começar constituir um partido, um instrumento através do qual se vai lutar. Nesse sentido é preciso ter sempre em vista a “movimentação” deste “núcleo duro” de idéias e pessoas.

A meu ver, esse nosso documentário com o Plinião quer investigar justamente, a partir do seu ponto de vista, quais foram as movimentações sociais e políticas, os embates centrais entre os partidos (estou falando de partidos reais, não de legendas partidárias), as batalhas nos gabinetes e nas ruas, as condições internas e externas que delinearam a derrocada do principal programa de esquerda do país e o que é preciso mudar (ou manter). Mais do que caça às bruxas, o momento exige uma dificil reflexão e união entre os socialistas.

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